"?" sempre ele!


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O ser humano nunca sabe o que quer. Sempre no 8 ou 80... não poderia ser 55?! Eu prefiro continuar sendo quem eu sou, no anonimato... mas, sempre evoluindo. Ah, mas um vip as vezes não faz mal a ninguém, né?! O que falta é responsabilidade nisso, virou coisa de vida ou morte! Coisas básicas e simples, foram jogadas fora por apenas alguns segundos... as escolhas começam a serem mal feitas para se ter um nome, não importa mais se é pro bem ou algo ilegal! Começou a desvalorização pessoal. O ´vip´ é tão bom, mas nada melhor do que sentar em uma praia, olhar o mar e ninguém fotografar!
FULANO DE TAL
Vilém Flusser


Folha de São Paulo, 07/07/1972

O anonimato é como fortaleza sitiada: quem está nele quer dele sair, e quem está fora quer entrar nele. O lema de quem está no anonimato é: que falem mal de mim, mas que falem. O lema de quem perdeu o anonimato é: não se fala na mulher de César.
Tal atitude ambivalente quanto ao anonimato é coisa recente. Épocas anteriores assumiam posições mais decididas. Em tempos arcaicos ter nome conhecido significava estar exposto a poderes nefastos. O conhecimento do nome conferia ao inimigo armas destrutivas, já que a força vital (mana) estaria escondida no nome. Por isto os nomes eram guardados em segredo, e por isto o nome de Deus é impronunciável. Na Antigüidade ter nome significava não tanto ser falado, mas ser cantado. E já que os poetas que cantam os nomes não passam de bocas das Musas, ter nome significava quase ser divinizado. Na Idade Média ser anônimo significava poder humildemente agir para a maior glória de Deus, e ter nome significava portanto cair na tentação do pecado mortal do orgulho. Na Idade Moderna fazer o seu nome significava permanecer na memória coletiva, e portanto entrar em Museu (imaginário ou não), e ter nome significava alcançar a imortalidade, por exemplo, a das academias.
Atualmente ter nome é problema.
Algumas razões da problematicidade da fama são estas: é muito fácil penetrar na memória coletiva, dada a comunicação de massa. Basta participar de programa televisionado do tipo Chacrinha. É igualmente fácil ser esquecido. Basta mudar o programa. A memória da massa é muito fugaz, e pode sê-lo. Pode sê-lo, porque existem memórias infalíveis: os cartões perfurados dos computadores. O problema é pois este: aonde quero ter nome, na massa ou no cartão perfurado? Se na massa, ficarei esquecido. Se no cartão, serei desumanizado. Chato isto.
Ainda existem academias, museus, anais de sociedades elegantes, enciclopédias e nomes de ruas. Posso querer fazer o meu nome em tais memórias arcaicas, consideradas “da elite”. Não serei nem esquecido, nem lembrado, mas embalsamado. A imortalidade das múmias ainda é possível, mas não parece valer a pena. Só satisfaz a vaidade. Portanto, morreu a fama.
Igualmente morreu o anonimato. Atualmente ser igual aos outros significa querer ser melhor do que o vizinho. Mas, como todos querem ser excêntricos, significa querer ser excêntrico para não distinguir-se.
Eis a solução do problema: fazer do nome Fulano de Tal nome famoso. Em suma: no futuro próximo todos serão famosos. Democracia? Não; fascismo.



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